terça-feira, maio 10, 2005

Software livre no setor público.




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Enviado em Segunda, 09 de maio 2005 as 08:18:03 por 1c3_m4n

No debate sobre a adoção de softwares livres (de código aberto) nas repartições públicas federais, não custa dar uma olhada na experiência americana.

Na pátria da Microsoft, os principais órgãos públicos usam esses programas, em vez dos softwares proprietários. É assim na Casa Branca, no Internal Revenue Service (a Receita Federal americana), no FBI (a polícia federal de lá), na Nasa (a agência espacial), na CIA (o serviço de inteligência) e em muitos outros locais.

Não se pode atribuir, portanto, a uma motivação ideológica a preferência do governo presidido por George W. Bush pelo software livre. A razão é econômica. Os softwares de código aberto têm a vantagem de permitir que especialistas adaptem os programas às necessidades do usuário. Em qualquer repartição pública, aqui e nos EUA, há pessoal qualificado para fazer esse trabalho. São profissionais que já fazem parte da folha de pagamento do governo.

Circulam gratuitamente na praça inúmeros aplicativos desenvolvidos em plataformas livres, prontos para serem baixados da internet a custo zero. Seu uso não exige o pagamento de licenças. Sendo assim, a pergunta que fica é: por que o setor público deve pagar por softwares proprietários quando pode desenvolver programas, na maioria dos casos gratuitamente, a partir de programas livres?

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) fez essa pergunta. Ao respondê-la, descobriu que, substituindo apenas um dos aplicativos que usa em suas estações de trabalho, está economizando R$ 8,092 milhões este ano e deixará de gastar R$ 21,4 milhões em 2006. Não é pouca coisa. Equivale a quase 30% do orçamento da estatal com programas de computador.

Quando decidiu iniciar a migração, a ECT atendeu a orientação do ITI, órgão da Casa Civil responsável pela definição da política de tecnologia de informação do governo federal. A estatal decidiu tocar o processo de maneira cuidadosa e planejada. Não poderia ser diferente. No setor público, o software livre engatinha.

Das quatro áreas de aplicação de softwares - estações de trabalho ("desktops"), servidores, suítes de escritório e sistemas e aplicativos -, a ECT decidiu experimentar a migração primeiro nos aplicativos de escritório. Durante três meses, em 2004, quatro das 26 diretorias regionais da empresa usaram de forma experimental o OpenOffice.org.br, o equivalente do MS Office, o programa da Microsoft que reúne os três principais aplicativos utilizados em escritórios - Word (editor de texto), Excel (planilha eletrônica) e PowerPoint (programa de apresentação).

Para cada uma dessas três ferramentas, o OpenOffice.org.br, que passou a ter essa designação porque uma empresa gaúcha decidiu registrar a marca OpenOffice, tem uma equivalente - Writer, Calc e Impress, respectivamente. Feito o teste, surgiu a oportunidade de adoção do software livre em 14 mil estações de trabalho adquiridas em janeiro deste ano pela ECT - hoje, a estatal possui cerca de 45 mil "desktops".

Quando fez a licitação para a compra dos novos computadores, o diretor de TI e de Infra-Estrutura dos Correios, Eduardo Medeiros, decidiu exigir que as estações já viessem com o OpenOffice instalado. O passo seguinte foi treinar 40 técnicos de suporte das diretorias regionais e outros 14 para ajudar na identificação das diferenças entre os software proprietário e livre.

ECT gasta menos com programas livres

Para fazer tudo isso, a ECT gastou R$ 104,5 mil, entre custos com consultoria, material, capacitação de pessoal e uso de recursos internos. Isso é nada se comparado ao que a estatal gasta anualmente com compras e licenças de softwares proprietários. Em 2004, apenas o aluguel do MS Office instalado em 6.159 máquinas custou aos Correios R$ 2,818 milhões.

O programa está presente em outros 25.535 computadores da ECT, mas nesses os softwares foram comprados. Em 9.139 máquinas, a versão utilizada é a do MS Office 97. Para atualizar os programas usados em todas as estações, a despesa anual da ECT é estimada por Eduardo Medeiros em R$ 14,9 milhões.

Diante disso e do sucesso no uso do OpenOffice, a estatal resolveu acelerar a migração para a plataforma livre. A meta é ter o novo programa instalado em 80% dos computadores até outubro. Até lá, o plano é desinstalar o software proprietário em 40% das máquinas. Os R$ 21,4 milhões de economia que Medeiros estima para 2006 incluem a substituição das licenças alugadas por softwares livres, o custo que a empresa teria com licenças para as 14 mil novas estações e a atualização das máquinas que estão rodando com softwares proprietários obsoletos.

Não é pequena a despesa da ECT com tecnologia da informação. Em 2004, a empresa gastou R$ 136 milhões. Do total, R$ 40 milhões com softwares. Neste ano, a despesa total pulou para R$ 195 milhões, sendo R$ 72 milhões com softwares. Com a adoção do OpenOffice, os gastos com programas vão diminuir sensivelmente a partir de 2006. Se a migração chegar às outras três áreas de aplicação, a economia será ainda maior.

Que uma empresa privada opte pelo pagamento de licenças, não há o que comentar, embora, nos EUA, a adesão aos softwares livres também está ocorrendo em ritmo acelerado. A americana General Eletric, a maior empresa do mundo, utiliza o Linux, o mais conhecido dos softwares livres, como sistema operacional. Templo do capitalismo mundial, a Bolsa de Nova York também usa Linux.

A idéia, em estudo no governo, de obrigar todas as repartições públicas a migrarem para softwares livres é polêmica porque excluiria os fabricantes de softwares proprietários de um mercado importante - o setor público. Por outro lado, a acusação de que o viés do governo, na campanha do software livre, é ideológico não se sustenta. O caso da ECT está aí para derrubar essa tese.

Há mitos sobre as plataformas livres que precisam ser desfeitos. Um deles é o de que elas são inteiramente gratuitas. Não são. O certo é que, tendo o setor público estrutura para desenvolver softwares, como de fato tem, a disseminação de programas livres faz todo sentido. Economiza o dinheiro dos contribuintes.

Valor Econômico, Cristiano Romero, 4 de maio de 2005

Fonte: PSL Brasil


Link: http://underlinux.com.br/noticia4810.html

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