segunda-feira, agosto 29, 2005

Google vira "império do mal" no Vale do Silício




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Por anos, o Vale do Silício esperou por uma empresa poderosa o bastante para derrotar a Microsoft. Agora, surgiu um sério candidato: o fenomenalmente bem-sucedido Google. Mas, em lugar de receber o Google como salvador, muitas empresas da região temem seu tamanho e seu poder. Preocupam-se com a possibilidade de que a força que transformou o Google em fenômeno no mundo das buscas o esteja afastando da cultura empreendedora que o ajudou a nascer e até mesmo fazendo da empresa uma ameaça.

Um ano depois da abertura do capital, as pessoas que trabalham para o Google aprendem da forma mais árdua o que representa ser o líder numa cultura acostumada a torcer pelo mais fraco. E enfrentam uma torcida local que em geral se rebela contra qualquer coisa que classifique como "comportamento corporativo".

Hoje, quando especialistas em capital para empreendimentos, empresários e líderes da tecnologia se reúnem no Vale do Silício, um dos mais assuntos mais comuns são queixas a respeito do Google e de tudo que o grupo faz, do assédio aos melhores engenheiros ao tratamento que dá aos seus parceiros e potenciais parceiros. A palavra "arrogância" é usada com muita freqüência.

A notícia, na semana passada, de que o Google planeja vender 14 milhões de ações adicionais só servirá para gerar novas queixas. "Eu definitivamente tenho percebido o ressentimento", diz Max Levchin, fundador do PayPal, o serviço de pagamentos on-line agora controlado pelo eBay. "Tornaram-se uma grande empresa e fazem coisas que as pessoas não esperavam que fizessem." Bill Gates certamente percebe semelhanças entre o Google e sua empresa. No segundo trimestre, à "Forbes", o presidente do conselho da Microsoft disse: "O Google é mais parecido conosco do que qualquer outra empresa com a qual tenhamos concorrido".

O sucesso do Google já levou a Microsoft a desenvolver um sistema próprio de busca, mas o Google tem engenheiros trabalhando em projetos próprios que podem desalojar a Microsoft da posição de destaque que ela ocupa desde o começo dos anos 80.

Evidentemente, o Vale do Silício já viu outros pretendentes ao trono no passado. A Netscape, que abriu seu capital há dez anos e seu browser, o Navigator, supostamente derrubariam a Microsoft, mas foi a primeira que acabou alijada do mercado. E, embora o Google esteja no pico do sucesso, as pessoas que acompanham a empresa dizem que ela está longe de ser considerada invencível -preços inflados para as ações, desejo de competir em setores demais simultaneamente ou simples arrogância podem causar um tropeço, dizem. Até mesmo a Microsoft, afinal, teve de enfrentar dificuldades legais.

Ainda assim, as semelhanças entre Microsoft e Google são evidentes aos olhos dos empresários locais, como Steven I. Lurie, que trabalhou na Microsoft entre 1993 e 1999, e Joe Kraus, fundador do Excite, um serviço de busca na web criado na década de 1990. "Eles têm a mesma atitude de pensar grande com relação aos problemas e às oportunidades", diz Lurie, que visita freqüentemente o Google, em Mountain View, para conversar com amigos que trabalham para a empresa.

Gigante gentil

Para colocar o Google no contexto, Kraus ofereceu uma breve aula de história. Nos anos 90, ele disse, a IBM era em larga medida vista como um "gigante gentil", uma empresa com a qual era fácil trabalhar em parceria, enquanto a Microsoft era percebida como "extraordinariamente temível, uma empresa competitiva que desejava entrar em tantas áreas quanto possível e com talento de engenharia suficiente para implementar qualquer coisa".

Agora, na opinião de Kraus, "a Microsoft está se transformando na IBM e o Google está se transformando na Microsoft". Kraus é fundador e presidente-executivo da JotSpot, uma empresa iniciante do Vale do Silício que espera vender ferramentas editoriais e para blogs a grandes empresas.

Da mesma maneira que a Microsoft foi vista ao longo dos anos como empresa agressiva e concorrente provida de recursos quase ilimitados para atrair talentos, as empresas iniciantes do Vale do Silício se queixam de que, praticamente toda vez que tentam contratar um programador respeitado, a pessoa já recebeu uma proposta de trabalho do Google.

O Google, diz Reid Hoffman, fundador de empresas de internet, causou "inflação geral da ordem de 20% a 25% no salário dos engenheiros do Vale do Silício". David C. Drummond, vice-presidente de desenvolvimento corporativo do Google, reconhece que a empresa era "muito competitiva" em sua busca de talento, mas acrescenta: "Somos muito sensíveis com relação à maneira pela qual as pessoas nos percebem. Acreditamos que o ecossistema do Vale do Silício seja essencial para o sucesso do Google".

O Google já tem um serviço gratuito de e-mail, um site agregador de notícias on-line e um sistema de administração de fotos digitais em sua carteira de produtos, o que o coloca em competição com pelo menos dois rivais em cada um desses mercados. Nesta semana, anunciou planos para um sistema de mensagens instantâneas.

"No passado, costumávamos ouvir sempre que a Microsoft era o império do mal", diz Brian Lent, presidente da Medio Systems, empresa iniciante de Seattle que trabalhava em buscas para telefones móveis. "O Google é o novo império do mal, porque estão em posição tão poderosa em termos de controle. Tem um potencial de controle monopolista sobre o acesso à informação."

"Gosto dos caras do Google, e os respeito", disse. "Mas seu objetivo final, digamos, parece ser "Google acima de tudo no céu e na Terra"."

Tradução de Paulo Migliacci

Folha de São Paulo - Dinheiro - //25/08/2005

GARY RIVLIN

DO "NEW YORK TIMES"


Fonte: Folha de São Paulo


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