segunda-feira, maio 29, 2006

Software livre e razões ideológicas




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O País não pode permitir que o preconceito prevaleça nessa área. A questão do software livre é muito discutida e pouco entendida no Brasil porque o debate parte de premissas erradas. à‰ preciso considerar que:

1) software livre não é sinônimo de software grátis;

2) o desenvolvimento de software livre é uma indústria mundial que envolve corporações multinacionais e movimenta bilhões de dólares;

3) a motivação ideológica - a quebra do monopólio das licenças de compra e utilização de software - há muito deixou de ser o principal incentivo de desenvolvedores e usuários de software livre. No Brasil esse ramo de negócios disputa espaço num mercado constituído por 7.700 empresas (das quais 94% são micro e pequenas) que movimentou quase US$ 7 bilhões em 2004. O setor recolhe R$ 1 bilhão em impostos por ano e foi incluído entre as quatro prioridades da política industrial do governo.


A indústria brasileira de software é a 15 no ranking mundial, com uma fatia de 1,1% do mercado internacional e quase metade do mercado latino-americano. Em 2004 exportou US$ 230 milhões. A Microsoft, que domina o mercado mundial, é apenas a quarta maior fornecedora do governo no Brasil, superada, pela ordem, por IBM, Oracle e Computer Associates (CA). De outro lado, os clientes da indústria brasileira no exterior, inclusive multinacionais, preferem ou exigem produtos que utilizem a plataforma Microsoft.

O desenvolvimento do software livre é um movimento irreversível, mas o País não pode aceitar o risco de perder a corrida tecnológica - por exemplo, a quarta onda da internet - por preconceitos ideológicos. Nessa corrida, a qualificação profissional desempenha um papel fundamental e determinante tanto no quesito "exportação de serviços" como no de inclusão digital e social. Um exemplo da qualificação profissional foi nossa participação na competição Imagine Cup 2005 (promovida há vários anos pela Microsoft), quando uma equipe de alunos brasileiros sagrou-se campeã na categoria office designer. Pela segunda vez o País disputa essa competição e já se destaca pela liderança no número de inscrições - mais de 90 países participam. Prova de que os desafios impostos por uma tecnologia que evolui diariamente em escala mundial devem ser encarados com responsabilidade.

Um estudo produzido pelo observatório econômico da Softex e pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade de Campinas (Unicamp) confirmou que o movimento de software livre no Brasil está se estruturando como mercado. Grandes empresas, algumas multinacionais, investem para oferecer suporte pré e pós-venda para o Linux, o principal concorrente dos sistemas operacionais proprietários, e seus produtos para rodar nessa plataforma. O Linux, um sistema de código aberto, admite a licença de propriedade. Difere dos softwares proprietários pela liberdade de utilização, cópia, modificação e distribuição. Quem adquire um pacote Linux precisa de suporte técnico para instalação e manutenção, e é nesse filão que a indústria vai buscar seu faturamento num mercado global que deve alcançar US$ 36 bilhões em 2008. à‰ difícil imaginar que empresas nacionais possam crescer num mercado sem regulação, enfrentando a concorrência predatória dentro do País e um ambiente dominado tecnologicamente por multinacionais. Se não houver uma política de apoio justa e criativa por parte do governo, quem continuará dominando esse setor, aqui como em qualquer outra parte do mundo, serão as mesmas empresas. Donas dos softwares proprietários e detentoras de contratos milionários com o próprio governo, tais empresas sufocam qualquer iniciativa de nascimento de tecnologia nacional genuína, pois esse modelo não lhes interessa. kicker: Se não houver uma política de apoio justa por parte do governo, as mesmas empresas de sempre continuarão dominando o setor

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3)(Cláudio Roche - Presidente da Allen Informática)

Gazeta Mercantil - Editoriais - //26/05/2006


Fonte: Gazeta Mercantil


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