100420reciclagem01Um ex-trabalhador do setor de informática encontrou no lixo de TI (Tecnologia da Informação) uma forma de gerar trabalho e renda e colaborar com o meio ambiente. Há 10 anos, Marco Antônio dos Santos recicla computadores e periféricos em Porto Alegre (RS), desmontando-os e vendendo as peças para empresas. "A única coisa que não pode ser reciclada é o monitor CRT", diz ele, que guarda todos os monitores que recebe em seu galpão para evitar que químicos como chumbo, perigoso para a saúde humana e para o meio ambiente, fiquem jogados pela rua.

 

Marco começou a trabalhar com o lixo a partir de um convite de uma empresa do setor em São Paulo, que estava querendo ampliar a compra de materiais reciclados. Passou a agregar integrantes da família e a contratar funcionários e em 2005 fundou a sua empresa, a Lumar Comércio de Metais e Eletrônicos - sempre mantendo a parceria com a empresa de SP.


Em um terreno na avenida Voluntários da Pátria, na Capital, Marco faz a triagem do material de informática que compra de catadores, universidades, hospitais e de empresas tanto públicas quanto privadas. O que for lata e sucata de metal fica no estado e é vendido à siderúrgica Gerdau. As placas e os componentes internos do CPU são enviados à empresa de SP, que tritura o material e depois exporta para que seja feita a separação dos componentes químicos. "Cada placa contém um tipo de metal, uma matéria-prima reaproveitável como silício, cobre, estanho, ouro, prata e paládio", diz.

Já no caso do monitor CRT (tubo), como não tem saída comercial, Marco apenas o recebe e estoca na empresa. Atualmente, no terreno da Lumar há uma pilha gigantesca com cerca de 10 mil monitores. "Os catadores e as crianças geralmente quebram o monitor, tiram o cobre e depois jogam o que não querem no rio, poluindo o meio ambiente. Sem contar que entram em contato com os materiais químicos, podendo ficar doentes", argumenta, mostrando a importância de seu trabalho.


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Placas já separadas e prontas para serem enviadas a SP.


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Drivers de CDs e DVDs.


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Teclados.

Monitor emperra reciclagem total

E é justamente na parte do monitor que está o sonho de Marco Antônio dos Santos. Ele quer montar uma usina de descontaminação a fim de encerrar o ciclo de reciclagem dos computadores. O monitor CRT, após passar por um tratamento para a retirada do material químico (a descontaminação), torna-se reciclável: o vidro do monitor pode ser reutilizado por exemplo na fabricação de tijolo de vidro ou piso vitrificado.

"O ciclo somente pode ser fechado no momento em que tens um destino final aos monitores. Estou desenvolvendo um projeto para fazer isso. Não desmonto monitor porque ele contém fósforo, chumbo e demais materiais pesados. Então vou armazenando para que futuramente consiga dar um destino final", explica Marco.

Hoje, o reciclador busca quem queira investir no projeto tanto na iniciativa privada como no setor público. “Estamos buscando parceria junto ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] e em países do exterior”, diz. Ele calcula que o custo de uma unidade de descontaminação chegue a R$ 5 mi, pois ainda não existem no Brasil as máquinas que separam os metais do monitor sem precisar do contato humano. Os equipamentos precisariam ser importados.  


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ONU (Organização das Nações Unidas) estima que até 50 milhões de ton de eletrônicos são jogados
anualmente no lixo em todo o mundo.

Outro empecilho para a reciclagem é que não há um trabalho de destinação ao lixo eletrônico, que cada vez mais aumenta no país. Em Porto Alegre, apenas a Lumar faz este tipo de serviço. Sua infra-estrutura atual já está ficando pequena para a demanda crescente de empresas e órgãos públicos que não têm como “pôr fim” aos seus computadores. Em média por mês, a empresa recebe 60 CPUs e 120 monitores CRT.

Há um ano, Marco foi procurado pela prefeitura de Porto Alegre para fazer uma parceria. A prefeitura possui um projeto para criar uma UTT (Unidade de Triagem Tecnológica) para lixo eletro-eletrônico, incluindo lâmpadas fluorescentes, TVs e demais aparelhos domésticos. No entanto, Luis Antônio Carvalho, responsável pela parte comercial da Lumar, conta que o projeto precisa de uma adequação. “A prefeitura tem que adequar este projeto a uma capacitação de pessoal. É preciso que tanto os catadores quanto os funcionários do DMLU [Departamento de Limpeza Urbana de Porto Alegre] saibam reconhecer e separar o lixo eletrônico”, diz.


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Um dos galpões da Lumar: empresa  já não tem mais quase espaço para
guardar o material.

Também está sendo estudada a disponibilidade de uma coleta seletiva somente de eletro-eletrônicos – diferente da atual coleta seletiva, dividida em lixo seco e lixo orgânico – a fim de facilitar o ciclo da reciclagem do lixo eletrônico. O que acontece hoje é que, sem saber o que fazer com o material, a grande parte dos moradores da Capital coloca seus computadores e eletrônicos velhos no lixo comum. “Se não forem pegos por catadores, que acabam nos trazendo, vão parar no aterro sanitário já que no DMLU não há um destino específico, podendo contaminar o solo e até mesmo o lençol freático”, diz Marco. A prefeitura de Santa Maria também procurou a Lumar para fazer um trabalho semelhante na cidade.

Lixo que gera renda

O mais antigo funcionário da Lumar é Rafael Santos da Silva. Há seis anos ele trabalha com Marco, mas antes disso já tinha contato com lixo. Ele é um ex-catador. “Certo dia passei pela rua onde mora o Marco e pedi se podia levar uma carcaça de computador. Ele disse que sim e perguntou se eu queria trabalhar com isso. Aceitei”, conta.


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Marco (à esquerda) e Rafael (à direita).
Hoje, Rafael mora com sua mãe em Viamão e recebe um salário em torno de R$ 800,00, além de transporte e cesta-básica. “Acho bom trabalhar aqui. É bem melhor do que estar nas ruas”, diz. Ele afirma que tem uma outra visão do lixo eletrônico. “Quando eu era catador, quebrava o monitor e as lâmpadas para pegar o cobre e vender. E deixava o restante do material na rua, não sabia do perigo que era para a gente e o meio ambiente”, relata.

“Tem catadores na rua que já separam as placas que estão atiradas por aí para me vender. Acabam sustentando suas famílias. O lixo eletrônico rende para mim, para as empresas e para terceiros”, conta Marco Antônio.

A Lumar emprega 10 pessoas. Também movimenta transportadoras, já que recebe materiais de empresas do interior do RS. Com as sobras do lixo, Marco ainda consegue montar computadores para ongs (Organizações não-governamentais) e para os seus funcionários.



PERIGO DOS QUÍMICOS (fonte: Greenpeace)

Produtos químicos contidos em um computador (CPU e monitor CRT):

Chumbo – Causa danos ao sistema nervoso e sanguíneo, podendo levar à morte.

Onde é usado: computador, celular e televisão

Cádmio – Causa envenenamento, danos ao coração, ossos, rins e pulmões.
Onde é usado: computador, monitores de tubo antigos, baterias de laptops

Mercúrio – Causa danos cerebrais e ao fígado.
Onde é usado: computador, monitor e TV de tela plana

Cromo – Provoca anemia, câncer de pulmão e alterações hepáticas e renais.

Onde é usado: gabinete e PCI de computadores

Prata – Efeito cumulativo, como Nitrato de Prata é letal ao homem (10g).

Onde é usado: PCI e conectores de computadores

Cobre – Provoca intoxicações como lesões no fígado.
Onde é usado: monitor, PCI e conectores de computadores

Belírio – Causa câncer no pulmão.
Onde é usado: computador, celular

Retardante de Chamas – Causa desordens hormonais, nervosas e reprodutivas.

Onde é usado: diversos componentes eletrônicos


PVC – Se queimado e inalado, pose causar problemas respiratórios.

Onde é usado: computador e em fios para isolar corrente



VOCÊ SABIA?


- A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que até 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são jogadas anualmente no lixo em todo o mundo. ONGs denunciam que países ricos, como os Estados Unidos, enviam seus lixos eletrônicos para lixões em países pobres, entre eles na África.

- Empresas de reciclagem da Europa afirmam que até 94% dos componentes de um microcomputador são recicláveis;

- O custo para se reciclar apropriadamente um velho monitor CRT na Alemanha é de 3,50 euros.



Fonte Sindppd-RS