Antes de tudo, a comunidade e o produto BrOffice/LibreOffice SÃO INDEPENDENTES da ONG, pois o desenvolvimento é único e distribuído dentro do projeto internacional, e a comunidade brasileira está cada vez mais presente no seu meio e isso NÃO AFETARÁ a evolução do produto ou a sua adoção no país. Todos continuam podendo usar esta incrível ferramenta livre de escritório, seja no sistema operacional que for, e para todos os usos (institucional, doméstico ou educacional).

Devido às diversas postagens em sites nacionais, blogs e listas sobre a “degradação” do projeto BrOffice no Brasil, cabem aqui meus esclarecimentos como presidente da ONG sobre o desalinhamento entre a visão da comunidade (que também é a minha) com a visão do conselho da organização e para isso faço uma contextualização inicial.

O desalinhamento hoje apresentado sobre a condução da ONG não é novo, acontecendo há muitos anos, mas assim mesmo sempre busquei unir forças para ver o projeto crescer, integrando todas as suas partes. Hoje penso que pode ter sido um equívoco de minha parte e poderia ter me esforçado menos para isso.

É importante deixar claro o objetivo da Associação BrOffice.org quando foi constituída: apoiar a comunidade de software livre. Isto está em seu estatuto. A princípio, a condição necessária para ser um associado era de pertencer a uma comunidade de software livre e ter "pontos" dentro dela, através da meritocracia. No entanto, disseminar e divulgar as políticas da associação parece ser de interesse de alguns somente. Os novos associados foram trazidos praticamente por mim, com pessoas de diferentes comunidades, como a do PostgreSQL-BR ou Debian Brasil, além do pessoal do BrOffice e software livre em geral.

Em seguida, é preciso saber quem são as pessoas. O Conselho Administrativo é composto por Carlos Braguini, Gustavo Pacheco, Noelson Duarte, Olivier Hallot e Vera Cavalcante. O Conselho fiscal é composto por David Emmerich, Eliane Domingos e Leonardo Cezar. Todos estes nomes estão no portal do BrOffice.org, na parte da associação[0].

0. http://www.broffice.org/resumo_institucional

Em 2007, o Felipe van de Wiel (faw) começou a cobrar transparência na ONG como associado que é, pois queria ver mais detalhes dos trabalhos que estavam sendo executados pela entidade em nome dela. A muito custo, conseguimos colocar as informações, como balanço e razão, em 2010, com regularidade no nosso wiki. No entanto, todas as demais informações financeiras ou administrativas não se têm os detalhes das mesmas. Isto infelizmente acontece pois a ONG possui associados em todo o país e o administrativo fica no Rio de Janeiro gerenciado pelo Olivier Hallot (conselheiro administrativo e diretor financeiro) e Eliane Domingos (conselheira fiscal e apoio administrativo). Assim, qualquer informação a respeito da saúde da associação, associados, contratos e convênios, e tudo mais fica no escritório compartilhado da ONG, no Rio de Janeiro, além de contador, advogado, banco, notas fiscais, e etc. Dependemos exclusivamente dessas pessoas para obter qualquer informação ou atualização e, nesse ponto, surge um dos primeiros problemas que é a falta de comunicação apresentada por quem gerencia o escritório no Rio e os associados e demais integrantes dos conselhos. Se eles querem, as informações aparecem; se não querem, ninguém sabe. Algumas atualizações soubemos por meios tortos e nada relacionado aos canais da Associação, como renovações de contratos sem que ninguém da associação, incluindo eu, delas tivesse conhecimento.

Mais de dois anos atrás, o Faw, um dos responsáveis pela infraestrutura de TI, percebeu a movimentação dentro da ONG, o desejo de listas fechadas para os conselhos, a relutância em tratar questões de forma aberta e transparente, e pedidos para que a infraestrutura centralizasse acessos e mudasse os responsáveis por alguns e-mails e/ou serviços. Como ele é um voluntário, ele não se submeteu a pressão e não o fez, mantendo o modelo de decisão por consenso, sempre com a minha aprovação (independente de ser ou não o Presidente da ONG) e de mais um representante da área ou comunidade afetada. A partir desse momento, a infraestrutura começou a tornar-se mais lenta e, recentemente, quando o Faw buscou uma parceria com a Hostgator para hospedar nossa infraestrutura, o representante da empresa foi "convidado" a "solucionar a equipe de infraestrutura", já que "os administradores de sistemas não estavam fazendo nada". A HostGator apoia a comunidade e cedeu um equipamento para a mesma, mas o escritório da ONG no Rio tentou "forçar" um contrato com a empresa por conta do apoio.

Aqui reforço a minha visão e da maioria dos associados: nós APOIAMOS a comunidade e ela é autônoma para se auto gerir e organizar. Até hoje, a infraestrutura dos projetos BrOffice, PostgreSQL, FLISOL, entre outros, são frutos das ações de pessoas voluntárias como eu, Faw, Rubens Queiroz e uma infinidade de outros voluntários da comunidade, buscando apoio aos seus respectivos projetos.

Sobre a Associação, sua transparência e ações

Este é um capítulo a parte, principalmente para os próprios associados (eu entre eles). Todas as discussões a respeito da Associação eram tratadas na lista broo-coordenacao@listas.broffice.org, mas agora as reuniões do conselho administrativo são realizadas particularmente entre eles, que se reservam a comentar somente o que lhes convêm, como foi a decisão sobre a gestão do CESLi (em um único email na lista), ou um contrato de prestação de serviços para os SERPROs há alguns meses. Os associados não sabem quem são, valores, duração ou qualquer outro desdobramento deste(s) contrato(s), ou ainda da gestão do CESLi. Assim sendo, os associados têm feito diversos questionamentos sobre vários pontos da gestão da ONG mas não obtêm respostas, alguns há uma semana, outros há alguns meses.

CESLi

Outro ponto importante está relacionado ao projeto do centro de excelência (codinome: CESLi). Na ONG e na comunidade, sempre busquei formar grupos de trabalho, e para o CESLi criamos um grupo específico composto por mim, David Emmerich e Leonardo Cezar. O Leonardo é da comunidade PostgreSQL, e hoje está estudando o Base para ajudar o LibreOffice. Nós fomos da equipe que iniciou o trabalho com a Itaipu Binacional e, dentro de um processo inovador que foi a proposta do CESLi, foi natural termos algum atrito sobre a forma de conduzir o projeto, mas a partir deste momento, David e Olivier começaram a questionar o andamento do CESLi e, por força do Conselho Administrativo, resolveram trocar o grupo de trabalho e simplesmente não houve mais comunicação alguma do Conselho e do grupo de trabalho para com os associados. Somente em 22/02/2011, soubemos que está tudo suspenso, ou seja, após sessenta dias de questionamentos e solicitações ao David e Olivier.

Sobre a marca "BrOffice.org"

Hoje é possível ver dois registros no INPI para a marca BrOffice; um em meu nome e um no nome da ONG. Isto é devido ao meu registro de 2005 e agora em janeiro por meio de notificação do INPI, soubemos que alguém do escritório da ONG no Rio de Janeiro registrou esta mesma marca sem informar a ninguém, sejam associados, conselheiros ou mesmo eu. Por cinco anos, nunca houve problemas sobre a marca porque eu garanti isso. Foram cinco anos de segurança para a comunidade e se existe algum questionamento sobre o por quê disso, uso um exemplo bastante conhecido: "Linux" é marca registrada de Linus Torvalds, e acredito que ninguém tenha dúvidas da boa fé dele em proteger a marca e seu bom uso. O mesmo com a marca BrOffice.

A Comunidade

Na comunidade temos o seguinte:

Revista BrOffice

Devido a "demora" da infraestrutura, foi criado um domínio externo (revistabroffice.org), mantida pela Eliane Domingos que simplesmente levou o desenvolvimento da revista para este endereço sem comunicação e/ou questionamento na comunidade. O Luiz Oliveira, editor da revista e voluntário no grupo de usuários, tentou questionar o porque da migração sendo que a infraestrutura no BrOffice estava funcional até então. Como vinha sofrendo pressões[1], o mesmo ficou sem saber como proceder. Além disto, na mais recente edição da revista (edição 19), o trabalho de muitos voluntários foi simplesmente descartado e aí o próprio time da revista começou a contestar[2] e cobrar o que estava acontecendo.

1. http://revistabroffice.org/pipermail/producao_revistabroffice.org/2011-F...

2. http://revistabroffice.org/pipermail/producao_revistabroffice.org/2011-F...

Graças a uma força-tarefa, reerguemos e viramos todos os trabalhos para a infraestrutura da comunidade, despreocupados com a possibilidade de termos pessoas, como eu mesmo, sendo barradas de entrar e participar do projeto. Com isto, as listas de discussão voltaram a serem públicas e acessíveis a todos os interessados.

Ainda dentro da esfera da revista, foi em resposta ao Luiz Oliveira que o Olivier Hallot comentou[3] sobre o pagamento do Luiz e sobre a SOBERANIA DO CONSELHO ADMINISTRATIVO, fato este que me deixou ainda mais preocupado, pois pelo estatuto[4] o órgão máximo da Associação (e não da comunidade) é a Assembleia Geral. Contestei[5] dizendo que a comunidade que é soberana e que o conselho tem gestão sobre a ONG apenas. Logo em seguida houve uma tentativa da Eliane Domingos de mostrar que eu queria usar a comunidade para ganhar dinheiro, o que refutei informando que este assunto já era discutido na comunidade desde 2007[6].

3. http://revistabroffice.org/pipermail/producao_revistabroffice.org/2011-F...

4. http://www.broffice.org/estatuto#cap_cinco

5. http://revistabroffice.org/pipermail/producao_revistabroffice.org/2011-F...

6. http://listas.broffice.org/pipermail/gubro-br/2011-February/000443.html

Também existem questões relacionadas ao uso do trabalho dos voluntários para a tradução de muito material em inglês. Este material estava sendo publicado apenas por um núcleo de 3 pessoas: Eliane Domingos, Gustavo Pacheco e Olivier Hallot, sem que fosse liberado acesso à qualquer pessoa externa.

Soube do acesso por meio da lista de discussão website@libreoffice.org e consegui o acesso ao pt-br.libreoffice.org (SilverStripe) graças ao Erich Christian, do projeto internacional, pois por parte do grupo dos 3 não houve uma comunicação de abrir o acesso para novos usuários, deixando tudo em absoluto silêncio. O conteúdo postado lá foi obtido através de contatos privados com os voluntários da comunidade brasileira e não usando as listas do projeto, recebendo os textos traduzidos e publicando-os em silêncio, como relatou Rui Ogawa[7], um desses voluntários. Hoje, estes mesmos voluntários que fizeram este incrível trabalho já estão na administração do portal pt-br, podendo publicar e ajudar novos voluntários a participar das comunidades nacional e internacional.

7. http://listas.broffice.org/pipermail/gubro-mt/2011-February/000496.html

Um ponto importante sobre o portal pt-br.libreoffice.org é que até segunda-feira (21/02/2011), quando conseguimos o acesso à administração do portal, não existia referência ao BrOffice. Se navegar, verá que todos os itens do broffice.org estão presentes lá, exceto os créditos. É como se o projeto tivesse "nascido agora", com um volume incrível de conteúdo. É o mesmo conteúdo que está no BrOffice.org.

Também é importante lembrar que a grande maioria dos nossos voluntários *NÃO FALAM* inglês, de forma que são poucas pessoas que interagem com o projeto internacional. Nos últimos anos, tenho feito um esforço *MUITO GRANDE* para termos mais brasileiros participando da conversa com a comunidade internacional, como o próprio Luiz Oliveira (marketing), Carlos Braguini (OOoCon2010), etc., e que neste último mês tem sido exponencial! Muita gente está participando diretamente dentro dos projetos, como o Paulo, Clovis, Helmar, e uma infinidade de outros voluntários. O projeto não é de um grupo, é de quem FAZ! Por isso somos MERITOCRÁTICOS!

Sobre o Encontro Nacional do BrOffice.org

Este ano foi apresentada uma proposta de ter pessoas contratadas para isto, afinal, trabalharam mais de 20h/semana no último encontro, chegando até a 40h/semana na quinzena final. Ao final da reunião com o Conselho de Administração, mais o Luiz Oliveira, foi votada a DESCONTINUIDADE DO EVENTO. Foram 4 votos aprovando a descontinuidade (Olivier, Pacheco, Vera e Noelson) e um contra (Carlos). Não foi recusada a proposta, mas sim, o evento! Neste ponto, é importante entender a autonomia e escopo de cada um. A ONG poderia dizer que não iria apoiar o evento, que por si, já seria muito ruim, mas tentar decidir pela comunidade que ela NÃO FARÁ o evento é algo BEM DIFERENTE!

Grupo de usuários

A ideia dos grupos de usuários foi do Marcus Diogo, que já foi voluntário e associado, e se desvinculou também por problemas de desalinhamento (como muitos outros). O objetivo sempre foi o de promover o produto, apoiando as ações locais nos estados, as universidades dali, e muito mais. Tem gente que acredita nesse processo, como eu e tantas pessoas que fazem os Gubros acontecerem em todo o país. Em 2008, fiz um esforço muito grande para promover um grande encontro dos Gubros no FISL. Como não estava presente, só soube o resultado dele em 2009, quando chegaram relatos, inclusive com relatório, sobre a dita reunião, na qual Gustavo Pacheco apresentou que o BrOffice.org funcionava diferente daquilo tudo. Do relatório:

"A criação dos Gubros é idéia do Cláudio, e se não estou enganado, com aval do Olivier. Mas, os demais não gostam e não apóiam a idéia. Gustavo acha que os Gubros tem como principal meta achar talentos para integrar a ONG. Não para fomentar o BrOffice.org em cada estado".

Isto explica muitas animosidades sobre o projeto Gubro, mas é ver pessoas como Luiz Oliveira, Renata Marques, Rui Ogawa, e tantos outros voluntários (além de mim) que GOSTAM do projeto, para ver a real importância dos Gubros. Quando soube do fato, chamei todos na assembleia geral e questionei se haviam problemas de alinhamentos, pois ali era o momento de discutir. Isto resultou a linha "Estar aqui para defender a comunidade! A base da Associação é a comunidade que desenvolve e promove o software BrOffice.org" (texto presente na ata de 22/06/2009[8], página 9), e não houve contestações.

8. http://people.broffice.org/~filhocf/oscip/20090622_ata_ago.pdf

Assim que, com este universo de desencontros dos associados, como eu, Leonardo Cezar, Felipe van de Wiel, Rubens Queiroz e os demais, não sabemos o que o conselho decide ou delibera.

Desta forma, diante de todos esses fatos que eu e os demais associados não concordam, dei um primeiro passo fazendo a minha carta pública explicando que não estava de acordo com os rumos da Associação e da sua relação com a comunidade BrOffice. Lamentavelmente, quem está ao largo da mesma, não pode colaborar para a solução do problema, sendo que apenas quem participa em maior ou menor grau da comunidade e da associação possuem subsídios para fazê-lo. Isto é tão verdade que vendo (ante) acontecimentos citados a própria comunidade iniciou sua movimentação através da petição online[9] ou se manifestando através de um blog independente[10].

9. http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=BrOffic...

10. http://librecommunity.wordpress.com/2011/02/17/quem-somos-who-are-we/

Como presidente, minha visão é clara sobre o encaminhamento dessa associação; a convocação de uma assembleia geral[11] dos associados para a dissolução dos atuais conselhos, eleição de novos integrantes e auditoria em todos os documentos, contratos, contas e acordos celebrados. Além disso, é necessária a discussão sobre se a ONG continuará a ser uma apoiadora da comunidade ou se ela deverá seguir por outro caminho, seja ele qual for.

11. http://www.broffice.org/convocacao_assembleia_geral_2011