http://files.cio.com.br/idgimages/ilustras_reutilizaveis_cio/manter%20equipes%20de%20TI.gde.jpgO mercado brasileiro de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) deverá crescer mais de 10% em 2011 e fechar o ano com faturamento acima de 182 bilhões de dólares, ante os 165,5 bilhões de dólares apurados em 2010, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Para alcançar esses patamares, o País precisa formar com urgência um contingente de profissionais qualificados para não correr o risco de enfrentar um apagão de mão de obra.

Preocupadas com o problema, empresas do setor público e privado estão buscando alternativas para reduzir a falta de talentos no País. Algumas delas criaram universidades corporativas para capacitar os profissionais de acordo com suas necessidades, já que reclamam que as faculdades não conseguem entregar mão de obra em linha com o que o mercado está pedindo.

Algumas estão repatriando profissionais que estavam fora do Brasil e contam até com apoio do Ministério de Ciência de Tecnologia (MCT), que criou um programa de incentivos para trazer de volta ao País cientistas brasileiros que resolveram seguir carreira no exterior. A presidente Dilma Rousseff sinalizou dar uma parcela de contribuição com a criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec), que tem a meta de capacitar 8 milhões de jovens até 2014. O projeto engloba um conjunto de ações com cursos que deverão ser ministrados pelas escolas técnicas profissionais estaduais e federais e o “Sistema S” (Sesi, Senai, Sesc e Senac).

Além dos cursos, a iniciativa amplia o alcance do Financiamento Estudantil (Fies), que passará a oferecer linha de crédito para formação profissional não apenas do ensino superior. Os do ensino médio vão poder buscar recursos para melhorar sua formação. Haverá também a opção de os estudantes fazerem cursos a distância por meio do sistema Escola Técnica Aberta do Brasil (e-TEC).

O Pronatec ainda está discussão na Câmara Federal, tramitando em regime de urgência. Os deputados prometem apreciação do projeto até o mês de agosto. Em caso de aprovação, seguirá para o Senado e depois para sansão presidencial. Seu objetivo é formar talentos de nível médio para preencher a base da pirâmide profissional com talentos que possam exercer atividades que não exigem tanto conhecimento. Hoje, é comum as empresas contratarem analistas com muitas qualificações para realizar tarefas menos nobres por causa da carência de especialistas. Esse problema acaba elevando os dos projetos, principalmente os de exportação.

Achar talentos qualificados em tecnologia no Brasil tornou-se uma operação de guerra para as companhias que dependem dessas pessoas para sustentar a expansão dos negócios. “Não há profissionais qualificados disponíveis no mercado. Os bons já estão empregados porque são diferenciados. Eles dominam as tecnologias e o inglês”, comenta o gerente-geral da Dasein Executive Search, David Braga. Sua empresa de headhunter tem sido bastante requisitada por companhias dos setores de telecom, finanças e manufatura para achar especialistas em TI.

As companhias estão buscando profissionais que conheçam tecnologia e business. Segundo o headhunter, os analistas de negócios e os especialistas em gestão empresarial (ERP) estão entre os mais disputados do mercado e mais bem pagos. De acordo com ele, os que dominam SAP chegam a receber propostas de grandes corporações para ganhar em torno de 20 mil reais, pois são pessoas que investiram muito em qualificação e desembolsaram pelo menos 30 mil reais em certificações, que atestam seu conhecimento no mercado.

“Encontrar um profissional desse disponível não é fácil. Eles estão blindados pelas empresas onde trabalham”, afirma o gerente geral da Daisen, que por vezes apela para o mercado internacional para achar profissionais que atendam ao perfil de seus clientes. Ele acha que o Brasil corre risco de enfrentar um apagão de mão de obra, mas apenas de especialistas seniors.

De acordo com Ruy Shiozawa, CEO do Great Place to Work® Brasil, as Melhores Empresas para Trabalhar em TI & Telecom são desejadas pelos profissionais mesmo quando eles ainda estão nos bancos das universidades. Elas sempre têm vagas e são procuradas pelos talentos, não apresentando indícios de apagão de TI.

Déficit profissional

Pelas estatísticas do Observatório Softex Sociedade Brasileira para Promoção da Exportação de Software, a indústria brasileira de TI emprega atualmente 600 mil pessoas. Porém, o déficit de mão de obra no setor aumenta ano a ano. Em 2010, havia uma carência de 75 mil profissionais e a previsão de entidades do segmento é de que esse número subirá para 92 mil pessoas em 2011. Elas estimam que até 2013 faltem aproximadamente 200 mil talentos no País.

Essa defasagem preocupa o presidente da Brasscom, Antonio Rego Gil, que de tempos em tempos vai até Brasília acompanhado de empresários do setor munidos de estudos para tentar sensibilizar as autoridades do governo federal para o problema. Em encontro recente com os ministros da Ciência e Tecnologia (MCT), Aloizio Mercadante; e das Comunicações, Paulo Bernardo; Gil voltou a reivindicar uma solução da administração de Dilma Rousseff para a falta de mão de obra em TI.

Gil argumenta que esse problema é um dos gargalos para a expansão da indústria brasileira de TI, que é a oitava do mercado mundial. Pelos seus cálculos, o setor cresce entre 11% e 14% ano, o dobro do Produto Interno Bruto (PIB). Sem somar os negócios de telecomunicações, esse segmento gerou receita de 85 bilhões de dólares em 2010, incluindo o faturamento com exportações que foi da ordem de 2,4 bilhões de dólares.

O Brasil tem a meta de chegar em 2020 com negócios totalizando 200 bilhões de dólares e pular da oitava posição do ranking mundial para o terceiro ou quarto lugar. Mas para alcançar essa meta, Gil afirma que o País precisa formar cerca de 750 mil novos profissionais qualificados e com conhecimento da língua inglesa. Entre esses, 450 mil serão apenas para atender o mercado interno e 300 mil para atividades de exportação.

Gargalo da mão de obra

Um dos problemas que contribuem para aumentar o déficit profissional no Brasil é a evasão escolar em cursos de tecnologia. Estudos da Brasscom apontaram que apenas 85 mil estudantes concluem os cursos superiores de educação tecnológica, o que representa em torno de 18% dos mais de 460 mil alunos que se matriculam nas universidades.

Um dos motivos para o grande índice de abandono dos cursos é a falta de perfil dos estudantes para tecnologia. O diretor de Educação e Recursos Humanos da Brasscom, Sérgio Sgobbi, menciona a baixa concorrência de alunos por vaga em cursos de graduação em tecnologia, que de acordo com o último senso do Ministério de Educação (MEC) de 2008 foi de 1,22. Isso segundo, o executivo facilita a aprovação dos candidatos, que nem sempre estão preparados para se adaptar e acompanhar os cursos de TI.

O professor Celso Poderoso, coordenador dos cursos de graduação da Fiap, avalia que o que afasta os jovens dos cursos de TI é a falta de informação sobre as profissões nessa área. “Muitos acham que para ser um profissional de TI precisa ser nerd e olham essa carreira com preconceito”, afirma. O professor constata que os alunos também acham que para entrar nesse mercado precisam ser experts em matemática. Ele afirma que algumas atividades se apoiam muita em lógica, mas que os estudantes não têm de ser mestres em números.

Para Celso Poderoso, cabe às escolas de ensino médio, principalmente as públicas, que não têm a cultura da informatização, desmistificar essa visão. É papel delas também orientar os alunos sobre as profissões de tecnologia e as oportunidades de emprego. Ele diz que os pais devem participar desse processo, mostrando as carreiras do futuro. “É comum as crianças serem preparadas desde pequenas para atuar em áreas como Medicina ou Direito, mas não observamos ninguém dizendo que o fi lho ou a fi lha será profissional de TI quando crescer”, reclama o professor da Fiap.

“Na Fiap todos os alunos saem com emprego garantido. A partir do segundo ano, eles já são recrutados para entrar no mercado de trabalho e com bons salários”, garante o coordenador da graduação. A faculdade tem cursos de TI em duas modalidades: graduação para tecnólogo (com dois anos de duração) e bacharelado em diversas áreas da TI (com duração entre quatro e cinco anos).

Anualmente, a instituição coloca no mercado 300 tecnólogos e 200 bacharéis em tecnologia com especialização em diversos ramos do setor. Como há falta de talentos, Celso Poderoso dá exemplo de um tecnólogo contratado no final do primeiro ano de curso para ganhar 4 mil reais em regime CLT para exercer o cargo de desenvolvedor de sistemas, o que ele considera um bom salário para quem está iniciando a carreira.

Um outro tecnólogo terminou o curso, de dois anos, exercendo o cargo de líder da equipe de desenvolvimento, com remuneração de 6,5 mil reais por mês. “Há muitas oportunidades de emprego no mercado para profissionais qualificados”, avalia Celso Poderoso. Entre os mais procurados pelas empresas estão os desenvolvedores de sistemas por causa da capacidade do Brasil para produção de software. Os grandes investimentos que o País está recebendo para implantação e ampliação de data centers, bem como os projetos de banda larga, também abriram mais vagas para os que têm domínio em rede.

O professor da Fiap menciona ainda que especialistas em banco de dados e em Business Intelligence (BI), são outros talentos bastante procurados pelas empresas. Com o crescimento dos dados corporativos, elas estão sendo pressionadas cada vez mais a ter dados gerenciais para a tomada de decisão.

Treinamento profissional

O diretor de Educação e Recursos Humanos da Brasscom, Sérgio Sgobbi, observa que os negócios estão cada vez mais dependentes da TI e que os usuários fi nais também estão consumindo mais esses recursos, obrigando as empresas a contratarem mais especialistas. O executivo diz que a área entretenimento está entre as mais quentes por causa do crescimento dos dispositivos móveis no Brasil. Entretanto, sua sofisticação exige muita qualificação.

O aumento das aplicações móveis criou oportunidades para especialistas em jogos, conectividade, interface de aplicações, modelagem de sistemas, desenvolvedores e sistemas operacionais. O fenômeno das redes sociais e cloud computing estão ajudando valorizar os talentos que têm domínio em segurança e comunicação. Essas novas tendências tecnológicas vão demandar mais especialistas, mas Sgobbi diz que as universidades ainda estão distantes dessa realidade do mercado. “Nuvem, por exemplo, é um assunto que está bombando em 2011 e os currículos ainda não abordam essa tecnologia”, afi rma ele. Na sua opinião, há uma defasagem entre o que é ensinado em sala de aula e o que as empresas estão pedindo.

Esse gap fez com que muitas empresas investissem em programas internos e universidades corporativas para capacitação de seus profissionais. Como é o caso da Telefônica, com a Universidade Telefônica; a Radix com a Universidade Corporativa; a Chemtech, com a Universidade Chemtech; a EMC, com a EMC University; e a CISS, com a Universidade CISS.

A Interadapt, prestadora de serviços de TI, que emprega 140 funcionários, criou uma “Incubadora de Talentos” para treinar os mais funcionários mais jovens. O CEO da Interadapt, Renato Ferreira, conta que 40% do time da empresa tem menos de 25 anos e chegam à companhia como pedra bruta. Eles não estão prontos ainda e a prestadora de serviços precisa capacitá-los de acordo com as necessidades dos negócios da empresa. Depois de qualificados, a companhia tem uma estratégia agressiva chamada “RH Estratégico”, para não os perder para a concorrência. O executivo avalia que esse tipo de ação ajudou a ter profissionais qualificados e a tornar a empresa mais atrativa para novos profissionais.

by Edileuza Soares

* fonte: CIO UOL