2012 será um ano muito importante para o OpenDocument Format e me arrisco a dizer que será um ano decisivo para a consolidação do formato. Os sinais disso são muito claros, após um 2011 cheio de mudanças e novidades.

Quanto às aplicações, os dois maiores acontecimentos foram, sem dúvida, a consolidação do LibreOffice e o início dos trabalhos do projeto OpenOffice.org sob a guarda da Apache Software Foundation. Os caminhos trilhados por ambos os projetos são conhecidos e as últimas novidades também: a versão 3.5.0 do LibreOffice está prevista para fevereiro enquanto que o Apache OpenOffice.org está prometido para o primeiro trimestre de 2012.

Debates sobre o licenciamento e as formas de organização e de desenvolvimento de cada produto são úteis e importantes, no entanto, não é essa a abordagem que pretendo desenvolver aqui. O que destaco para 2012 é que estas serão as duas aplicações que disputarão a preferência de antigos e novos usuários do formato OpenDocument.

Na prática, o que teremos então é que, pela primeira vez, haverá uma prova significativa de interoperabilidade a ser vencida: a compatibilidade dos documentos entre diferentes aplicações livres. É um cenário que não se compara ao momento anterior, onde o OpenOffice.org reinava absoluto em todos os quesitos. Outras aplicações como, por exemplo, o Lotus Symphony, proprietário, ou o KOffice, livre, sugiram como interessantes alternativas de testes, no entanto, raramente foram consideradas as primeiras opções dos usuários.

A troca de documentos no padrão OpenDocument entre usuários do LibreOffice e do Apache OpenOffice.org será uma situação comum em 2012. A compatibilidade total entre as aplicações deve ser obrigatória. Parece simples? Sim, a primeira vista sim. No entanto, seis meses de desenvolvimento foram suficientes para diferenciar as aplicações em funcionalidades básicas como, por exemplo, um estilo de borda de célula (para citar uma nova funcionalidade implementada no LibreOffice logo na sua primeira versão 3.3.0).

Recursos diferenciados serão peculiaridades de cada pacote. No entanto, a interpretação da especificação do padrão OpenDocument deve ser comum. Não importa a forma de implementação: o resultado final para o usuário deverá ser compatível e perfeito nos dois softwares. Caso isso não aconteça, teremos um risco concreto. As pessoas que vivem os projetos sabem disso, bem como a OASIS, que define o padrão. Esse é a grande vantagem para que o padrão OpenDocument encare com sucesso essa particularidade do novo cenário.  

O tema é tão importante que transcende as aplicações livres. Seria um tema suficientemente rico para outros artigos, mas basta citar, por exemplo, que já existem diversas aplicações ODF para dispositivos móveis e a edição de documentos ODF na nuvem tende ir além do Google Docs - com o desenvolvimento do LibreOffice  Online e do WebODF. E, note que interessante,  a Microsoft será a organizadora da 8.ª ODF Plugfest, que será realizada em Bruxelas, no próximo mês de abril. Isso significaria um passo concreto em relação à compatibilidade do Microsoft Office com o ODF? Minha opinião é que é cedo para dizer. De fato, esperamos que, em 2012, a interoperabilidade real do ODF chegue, também, a todos esses outros aplicativos.

Para finalizar, uma abordagem técnica sobre a interoperabilidade do ODF pode ser obtida na página do ODF Implementation, Interoperability and Conformance Technical Committee Formation e no documento The State of ODF Interoperability.