Razgriz com alunos do curso (Foto: Ronaldo Lages)

Nos dias 16 e 17 de março, no Centro de Treinamento da Procergs, em Porto Alegre, aconteceu o evento Soluções Profissionais Livres e Abertas na Produção Gráfica e Edição de Imagens, promoção do CGTIC-RS e da ASL.

Em dois dias intensos, o evento gratuito reuniu cerca de 20 pessoas que tiveram a oportunidade de conhecer as vantagens do uso de ferramentas livres e aprender na prática os primeiros passos da edição gráfica nos softwares Gimp, Inkscape e Blender.

O tempo foi curto para tanta novidade, e todos os participantes ficaram querendo mais.

Enquanto esperamos alguma nova oportunidade de aprender na prática (quem sabe no fisl13?!), fiquem com a entrevista de Razgriz feita ao final do evento.

ASL - Ainda há muito preconceito quanto ao uso de softwares livres em geral, mas especialmente na produção artística, tanto musical quanto gráfica. A que você atribui esse preconceito? Tem fundamento?

Razgriz - Não tem nenhum fundamento. Na verdade a gente costuma dizer que o preconceito começa em casa, e neste caso a nossa casa é a comunidade SL. Isso acontece porque a gente não se conhece, esse é o grande problema. A comunidade maltrata aquilo que ela não conhece, e isso tanto no software livre quanto no proprietário. A comunidade de computação gráfica livre busca espaço para mostrar, para se mostrar, para que se tornem conhecidos. Não para ficar famosos, nada disso, mas para que os softwares sejam respeitados pelo que eles tem, pela qualidade que eles possuem.

O dia que a gente conseguir isso, acabou o preconceito. Não é um problema de qualidade, é um problema de desconhecimento.

ASL - Quais são as dificuldades que os usuários relatam quando tentam usar alternativamente uma ferramenta como o Inkscape ou o Gimp? Há realmente limitações nas ferramentas livres?

Razgriz - Na verdade, para a minha grata surpresa, o que a gente vê não são reclamações, mas elogios. Deveriam surgir altas reclamações, “ah, não tem o botão tal”, etc, mas pelo contrário, a gente se depara é com exclamações “olha! isso eu não conseguia fazer antes! Nossa, que bacana!”

A questão é que a qualidade dos programas livres é muito superior, mas pouca gente acaba sabendo disso.

ASL - Quer dizer que, por exemplo, não há limitações técnicas reais se compararmos um Inkscape com um...

Razgriz - ... Corel, por exemplo? Não há. Pelo contrário. O Inkscape promoveu uma desburocratização da criação gráfica. Porque o Corel, por exemplo, consegue ser um programa incompatível com ele mesmo. Ele não consegue conversar com suas próprias versões. Aí eu vou te dizer o que acontece... esse arquivo vai pra uma gráfica, no Corel... se a gráfica não tiver aquela mesma versão do programa... No Inkscape, você salva em formato .svg e numa máquina diferente o arquivo vai abrir do mesmo jeito. É a questão do padrão aberto também.

ASL - Talvez as queixas de que os softwares são tecnicamente inferiores não tenham fundamento, mas elas existem. E considerando que a própria comunidade se queixa, e considerando que o software tem o seu código aberto, teoricamente é possível que qualquer programador interessado desenvolva funcionalidades que os equivalentes proprietários apresentam e as versões livres não. Por que isso não acontece?

Razgriz - Eu acho que isso não é uma particularidade da comunidade de SL. Em todos os lugares, geralmente, quem muito fala não faz nada. Infelizmente isso acontece em qualquer lugar.

ASL - E você concorda com a declaração de que, no Brasil, as comunidades de software livre investem pouco em desenvolvimento de software? Já ouviu isso?

Razgriz - Isso eu ouço todo santo dia. Acho que tem algo importante a destacar aí: o brasileiro fala demais. É não é só contribuir com código. A gente também não contribui com documentação, a gente não contribui nem com tradução! Português é uma língua que não se fala só no Brasil, é importante ter essas traduções. O problema é que no Brasil a gente fala demais. No momento que a gente passar a falar menos e partir para a ação, com certeza a gente vai ser reconhecido e mais respeitado.

Eu acho que inclusive a gente devia destacar um pouco o discurso do SL do discurso político, para prestar atenção nesse tipo de contribuição que tá faltando.


Guilherme Razgriz é coordenador Técnico do Cria Livre, diretor de arte desde 2003, e um ferrenho defensor do uso de ferramentas livres na criação de peças gráficas e no dia-a-dia. Participante ativo de diversos projetos da comunidade, é mantenedor do portal referência em Gimp no Brasil, e também autor de documentação especializada em direção de arte com software livre, atualmente disponível no blog El Diablo Criativo.