TEM PINGUIM NA REDE – DEZ ANOS DE SOFTWARE LIVRE NA REDE EDUCACIONAL

 

A PESQUISA - Algumas escolas brasileiras comemoram dez anos de convivência com Software Livre Linux. A pesquisa “Tem Pinguim na Rede” – Dez anos de Linux Educacional na rede escolar refere-se ao Software Linux, cujo logo é um pinguim adulto TUX ou ao BABY TUX de acordo com aplicativo open source para crianças. Pinguim na Rede é a metáfora aplicada à relação entre os transtornos causados aos pescadores e ao meio ambiente pelo aparecimento de pinguins nas redes de pesca e os possíveis transtornos provocados pelos paradigmas tecnológicos emergentes aos pescadores, isto é, professores nas redes educacionais. A pesquisa permanece online em até outubro de 2011. Está disponível em www.sed.sc.gov.br/alunos e também no blog http://mariasuzeten.blogspot.com. São perguntas simples, destinadas principalmente a crianças e adolescentes, sem quaisquer pretensões acadêmicas, pela forma informal como foi elaborada e aplicada. O objetivo desta pesquisa era descobrir se estamos criando uma cultura Open Source na escola. A escola está pronta para as mudanças? Precisamos saber.
A ESCOLA - São mais de dez anos de trabalho na implantação de ferramentas chamadas TIC – tecnologia de informação e comunicação nas escolas. Tudo mudou. Os dicionários mudaram. Verbos e verbetes como clicar, twitar, blogar, navegar, digitar, e-mail, virtual, real, inclusão digital, rede social, Orkut, Facebook, caixa postal, net, Firefox, writer, impress, Mozzila Firefox, Iceweasel, Tux, Linux e outros foram anexando-se ao idioma ou agregando novos conceitos sem consulta prévia à Academia Brasileira de Letras, que, diga-se de passagem, nada tem contra, mas tudo a favor como pode se constatar em seus sítios e sites. Em outros tempos nem pensar! A estrutura física da escola mudou. Os prédios incluem um espaço para um laboratório de informática ou sala informatizada, cujo conceito ainda encontra obstáculos nos meios escolares. A conexão à rede mundial de computadores também é realidade em grande parte do grande parque educacional brasileiro. O quadro dos profissionais que trabalham nas escolas inclui um novo perfil profissional: o do técnico de laboratório. Trata-se de um maravilhoso ser meio híbrido entre os deuses e humanos que dominam a técnica e a arte, outros que dominam a técnica, mas não a arte e alguns que não dominam a técnica nem a arte de lecionar, mas acabam conquistados pelo ambiente escolar, pelas perspectivas pedagógicas das máquinas na educação e pelo alto potencial nivelador que a tecnologia pode oferecer aos profissionais da educação, ao aluno e à comunidade. Eles vieram para ficar. Foram contaminados pela escola, conhecem o valor de sua contribuição, mas ainda são injustamente vistos como ameaça, ambos estranhos no ninho, criadores e criaturas. Podem tornar-se colaboradores numa equipe de trabalho apta para mudar o mundo para melhor ou podem apossar-se do laboratório como território de sua propriedade, terra desconhecida onde vicejam nerds encantados por si mesmos e por seu trabalho. Em sua grande maioria ensinam e também aprendem no mais puro espírito open source de colaborar e compartilhar conhecimentos e estratégias, sentimentos e emoções. Não há volta. Sabemos disso. A participação desses técnicos de laboratório foi fundamental no preenchimento dos formulários da pesquisa “Tem Pinguim na Rede.”
O TEMPO - Mais de quinhentos anos se passaram justificando o preceito saber é poder. O conhecimento concentrou-se na figura do professor, nos livros, nas bibliotecas, na escola por ela mesma, no clero, nos governos. Símbolos de autoridade e de saber, abruptamente questionados diante do fácil acesso aos bancos de dados do Google, por ex. Ontem cientistas e pesquisadores importantes dos livros escolares eram senhores de barbas e bigodes, em sóbrios trajes escuros, exceção a Einstein, justiça seja feita, a maioria ou em sua totalidade elite intocável já falecida. Hoje, num clicar de dedos, os maiores gênios da humanidade estão vivos, olham para mim do televisor, dizem “siga-me no twitter.” São Steves Jobs, Billis Gates, Stallmans, Maddogs, Torvalds em potencial à minha volta, todos mais jovens do que eu! Dez anos é muito pouco tempo para a escola mudar. As crianças estão prontas para a janelinha e para o pinguim, mas a escola não. Um laboratório cheio de computadores não basta. Podemos levar um cavalo à fonte, diz o ditado, mas não podemos obrigá-lo a beber. Os tempos mudaram para melhor, mas ainda há muito por fazer. As mesmas tecnologias que nos mostram um mundo novo cheio de possibilidades nos acusam de desperdiçadores em todas as camadas e faixas etárias da população. A depredação do meio ambiente e o esgotamento dos recursos naturais cobram atitudes de responsabilidade social e ambiental. Ninguém está isento. Um lindo laboratório de informática, repleto de computadores jorrando possibilidades não é garantia de que o cavalo sacia a sede. Por outro lado, um único computador em sala de aula, conectado à web, pode ser fonte da mais pura, fresca e irresistível água que se possa desejar.
O LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA - Estamos diante de um dos maiores investimentos na educação no Brasil. Ninguém poderia imaginar em outros tempos aquisição de eletro-eletrônicos para as escolas nas dimensões que acontecem atualmente. É quase impossível visualizar todas as escolas do país conectadas à web, com salas informatizadas, infraestrutura e mobiliário adequado, projetores multimídia, técnicos de laboratório. Um outro depósito de quinquilharias eletrônicas talvez. Prefiro pensar no mais arrojado e louco plano para fazer da educação prioridade em igualdade de condições com outros setores da Economia. Infelizmente o conceito de sala informatizada ainda passa longe da maioria dos educadores, exceções à parte. Sala informatizada é uma sala de aula. Para qualquer aula. Não depende de técnico, de laboratório nem de estranhos ao ambiente escolar. É uma sala de aulas como outra qualquer. Necessita de um professor, uma estratégia pedagógica, um plano de aula, um currículo escolar, não necessariamente nessa ordem. A tentativa foi boa, mas não deu certo. Se alguém pensou que bastaria lançar professores e alunos num ambiente virtualmente novo para que todos o assimilassem por osmose, infelizmente estava enganado. Temos que mudar a estratégia. Usar o laboratório de informática como laboratório de informática. Ter cursos de informática para professores não nativos digitais. Horas atividade, reuniões pedagógicas, oficinas de editor de texto, de planilhas eletrônicas, de ferramentas de edição de imagem, áudio e vídeo, de navegação na web, tudo isso no laboratório de informática. Isso é inclusão digital. Os cursos de formação de professores no nível médio precisam incluir em sua grade de formação uma interdisciplina chamada tecnologia educacional. Isso também é inclusão. Não precisa ser bruxa para desvendar o Passado glorioso dos NTEs de Santa Catarina. Basta voltar o olhar para as conquistas dos últimos anos. O Presente fala por si próprio e o Futuro não pode excluir a Tecnologia de Informação e Comunicação das escolas públicas. Fazer parte dessa história é a melhor parte da vida. Quanto ao resto, os bons professores darão um jeito, como sempre fizeram. O FUTURO -Todos os cidadãos que serão adultos nascidos no terceiro milênio têm hoje apenas doze anos de idade, no máximo. Milhões deles morrem de fome. Milhares são estuprados e assassinados todos os dias. Muitos têm apenas Deus. É para eles que devemos voltar nossos olhares e nossos esforços de mundo melhor por meio do conhecimento e da informação, mas de imediato com um prato de comida, água, educação, arte. Para estes, às vezes Deus apenas não é suficiente. Precisamos de humanidade - Ubuntu, em língua africana. Os outros, nessa faixa etária e acima querem uma plataforma robusta para games. Eles aprenderão e usarão tecnologia apesar da escola. Eu mudaria para um software livre, dizem eles, mas... São usuários em potencial. É aqui que poderemos pegá-los com o software livre. Com os mais incríveis games que suas mentes brilhantes podem suportar e compartilhar, sem ameaças de vírus, sem ameaças por violação de licenças, com os ventos das quatro liberdades soprando a favor. Sermos consumidores de tecnologia não é suficiente. Teremos que ser também produtores de conhecimento e de atitudes que facilitem o acesso ao conhecimento. O aluno precisa ser produtor de conhecimento antes de terminar as series do Ensino Fundamental. Com lápis e giz apenas não dá mais! É tempo de pensar nesse aluno como cidadão do mundo. É tempo de pensar no Brasil como país da América Latina agora, com sua cultura, sua unidade e mais do que nunca é  hora que tratar de cada um individualmente. A tecnologia nos facilita o respeito às idiossincrasias. Este é nosso desafio. Enquanto isso não acontece presenciamos o surgimento de uma relação temporária de nem sempre generosa condescendência do aluno para com o professor diante destes desafios. É como se as novas gerações olhassem para nós e não acreditassem que pudemos sobreviver em outras eras, no milênio passado, no século passado, sem web, sem micros, tablets, celulares, notebooks, netbooks, ultrabooks e o que vem por aí. Durante anos reclamamos que a escola precisava sair da Idade Média. Temos a oportunidade, o meio e a clientela, mas a escola ainda não está pronta para lidar com os pinguins na rede. Os alunos estão prontos para o pinguim e para a janelinha. O resto é conosco educadores e com programadores. Sem fronteiras entre eles. Como disse Steve Jobs ainda precisamos educar a clientela, nós mesmos. Muitos não sabem do potencial pedagógico da rede de computadores. Muitos olham para o laboratório de informática como um santuário. É isso que é. Muitos desejam tirar o computador do santuário e desejam colocá-lo na sala de aula. Muitos fazem um trabalho pedagógico de dar inveja com ou sem máquinas. Para os jovens e crianças, Linux é tão bom como qualquer outro, interessante, bonito, fácil de usar, de custo reduzido, interface atrativa em que liberdade e qualidade são sinônimos. A geração que mudou o mundo pagou caro. Valeu a pena. Saímos de um holocausto e dissemos basta! Dissemos "faça amor não faça a guerra." Cantamos "somos todos iguais braços dados ou não." Reduzimos a hipocrisia. Pagamos caro. Enfrentamos outro holocausto agora: o da indiferença. As estatísticas dizem que 40 mil pessoas morrem todos os dias de fome, de doenças, de guerras direta ou indiretamente incluindo crianças. É tempo de uma nova canção porque a única relação indispensável é a relação entre as pessoas. É tempo de humanidades outra vez. Ubuntu.

Maria Suzete Neumann

Alfabetizadora durante dezessete anos. Professora de Arte-educação e de Tecnologias Educacionais Aplicadas, nos cursos de pós-graduação. Especialista em Gestão de Tecnologias Educacionais - UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina. Pedagoga. Coordenadora do Núcleo de Tecnologias Educacionais na 25ª Secretaria do Desenvolvimento Regional em Mafra - SC. Escritora.

Texto: Maria Suzete Neumann neumann.mariasuzete@gmail.com

Coordenador da Pesquisa: Maria Suzete Neumann

Núcleo de Tecnologia Educacional – Mafra. Equipe: Celso Kachimareck, Hilda Maria Sprotte Costa, José Francisco Woehl. Agradecimentos especiais aos técnicos de laboratório da 25ª Secretaria do Desenvolvimento Regional, SDR – Mafra SC no ano de 2011